domingo, agosto 24, 2008

#00.178 Simone de Beauvoir - parte 2

Como não vou muito à bola com o Sartre e a "sua Náusea", até gostaria de pegar naquele cliché: "Atrás de um grande homem está uma grande mulher" e torná-lo, no caso da Simone:

“Atrás de um pequeno homem, está uma grande mulher!”


#00.177 Simone de Beauvoir


Em 1976, numa entrevista, Beauvoir dizia que as mudanças pelas quais lutara não se realizariam durante a sua vida. “Talvez daqui a quatro gerações.” Que importância tem hoje ‘O Segundo Sexo’? Cem anos depois do seu nascimento, a França ainda se comove com ela.

Publicado em 1949, tinha Simone de Beauvoir 41 anos, ‘O Segundo Sexo’ viria a ser considerado uma marca fundamental no pensamento feminista do século XX, abrindo caminhos para a teorização em torno das desigualdades construídas em função das diferenças entre os sexos.

Composto por dois volumes (Factos e Mitos e A experiência vivida), o livro debate a situação da mulher, do ponto de vista biológico, sociológico e psicanalítico, inaugurando problemáticas relativas às instâncias de poder na sociedade contemporânea e às diferentes formas (tantas vezes conflituais) de dominação.
Reflectindo, pois, sobre as razões históricas e os mitos que fundaram a sociedade patriarcal e a sustentam e que trataram a mulher como um “segundo sexo”, silenciando-a e relegando-a para um lugar de subalternidade, Beauvoir irá apontar soluções que visam à igualdade entre os seres humanos.

Fonte de inspiração para autoras como Betty Friedan, que lhe dedicou o seu já clássico ‘The Feminine Mystique‘ (1963), ‘O Segundo Sexo’ antecipa, de forma admirável, o feminismo da chamada “segunda vaga”, que surgiria quase três décadas depois, com o movimento de libertação das mulheres a desenvolver-se, no final dos anos 60, a par de outros movimentos sociais de contestação, de carácter transnacional - as lutas pelos direitos cívicos, os movimentos estudantis, as preocupações ecossistémicas, a reivindicação, por parte das minorias, de uma voz e de um lugar que fosse seu. “A disputa durará enquanto os homens e as mulheres não se reconhecerem como semelhantes, isto é, enquanto se perpetuar a feminilidade como tal”, escrevia Beauvoir.

Entendendo “feminilidade” como uma construção, a teorização de Beauvoir é levada a cabo a partir da dupla edificação deste conceito dentro do paradigma patriarcal - o “feminino” como essência e o “feminino” como código de regras comportamentais.

Sexo e género.
Antecipando os movimentos feministas, Beauvoir antecipa ainda aquela que viria a ser uma das pedras de toque teóricas para os estudos feministas de raiz anglo-americana: a apropriação da palavra “género”, para significar a construção social de uma diferença orientada em função da biologia, por oposição a “sexo”, que designaria somente a componente biológica.

É a partir da frase já célebre de O Segundo Sexo “On ne naît pas femme, on le devient” (”Não nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres”), que teóricas feministas como Joan Scott irão, nos anos 80, reflectir sobre o estabelecimento da diferença entre “sexo” e género (”diferença sexual socialmente construída”), desafiando e questionando a noção de que a biologia é determinante para os papéis atribuídos às mulheres e de que existe uma “essência feminina”.

Assim, dentro de um quadro conceptual feminista, a questão proposta por Beauvoir é crucial, visto denunciar o carácter eminentemente artificial da categoria “mulher”: um ser humano do sexo feminino “não nasce mulher”, antes “se torna mulher”, através da aprendizagem e repetição de gestos, posturas e expressões que lhe são transmitidos ao longo da vida.

Só por isto se teria O Segundo Sexo mantido actual. Surpreendente é que novas teorias, como a teoria queer, surgida há pouco mais de uma década, emergente dos estudos feministas e devedora dos estudos gay e lésbicos, revisitem Beauvoir e a sua célebre frase.


Tendo como um dos seus nomes mais marcantes Judith Butler, a teoria queer assume-se como emancipatória, ao defender que as identidades são criadas pela repetição de certos actos culturalmente inscritos no corpo. Reagindo às políticas de identidade, que haviam sido, nas décadas de 70 e 80, fulcrais para o sucesso das políticas de inclusão social, Judith Butler, e o seus Gender Trouble (1990) e Undoing Gender (2004), partem desse “On ne naît pas femme, on le devient”, de Beauvoir, para acentuar a ideia de que a identidade é fluida e instável e de que “género” é um conjunto de actos performativos.

Neste caso, em lugar de se ler “Não nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres”, poderia ler-se “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, ou seja, todos e todas nós aprendemos a construir identidades a partir de modelos aparentemente matriciais, que se foram depois cristalizando, mas que são, eles próprios, simulacros. A ênfase é, pois, colocada na transformação - que, podendo ser limitação, pode igualmente expandir-se para gesto de liberdade.

Em 1976, numa entrevista, Simone de Beauvoir dizia que as mudanças pelas quais lutara não se realizariam durante a sua vida. “Talvez daqui a quatro gerações”, acrescentava.
Para esta jovem teoria, a lição de Beauvoir coloca-se também num “devir”, esse devenir de que, há quase 50 anos, ela falava. Jovem, outra vez, neste ano que celebra o centenário do seu nascimento.

Ana Luísa AmaralEscritora, e professora de Literatura Anglo-Americana e de Estudos Feministas na Faculdade de Letras do Porto

Roubado daqui:

segunda-feira, agosto 18, 2008

#00.176 vingança


Eu torturo a ex-amante do meu marido.


Soube do relacionamento em 2004 e o caso dele terminou.

Torturei-a psicológica e emocionalmente desde então.
Não é difícil.
E ela continua sem saber que sou eu.






-----Email Message-----

Sent: Sunday, August 17, 2008 12:23 PM
Subject: "I Torture My Husband's Ex-Mistress"

I have continually made life hell for a man who used and then dumped me unceremoniously over five years ago.

It's nothing physical - he lives in another state now - but he's been fired because his employers have received notes from me, his flight arrangements are often cancelled, complaints made to his landlord, his electricity mysteriously turned off.

Reading this card, I have decided to stop, because it made me realize that by not letting go, the only one I'm really torturing is myself.

Daqui:

sexta-feira, agosto 08, 2008

Curtas #0029


#00.175 primata foste, primata és...

Não é só a nossa anatomia que é produto da evolução. A nossa sociabilidade, a principal adaptação comportamental dos primatas, é um produto do nosso estatuto de primatas mais evoluídos.

Embora tivesse sido a aprendizagem que nos tornou membros de uma cultura ou de outra, a nossa natureza social é uma característica tão fundamental dos primatas como a respiração.

Toda a variedade de comportamentos sociais humanos desde os laços mãe-filho até ao esforço corporativo, à escolha de um parceiro ou ao ciúme sexual, é influenciada por tendências evolutivas para responder a situações particulares dentro de um certo espectro de reacções emocionais e comportamentais.

Pág. 24/5

“Os símios caçadores”
Craig B. Stanford
Editorial Bizâncio