É paradoxal que sejam os que vêem algo de «mau» ou pelo menos de «turvo» no sexo sejam os mesmos que dizem que dedicar-se-lhe com excessivo entusiasmo animaliza o homem.
A verdade é que são precisamente os animais que só empregam o sexo para procriar, como só utilizam o que comem para se alimentarem ou o exercício físico para a conservação da saúde. Os seres humanos, nós, em contrapartida, inventámos o erotismo, a gastronomia e o desporto.
O sexo é um mecanismo de reprodução para os homens, como também para os veados e os besugos; mas nos homens o sexo produz muitos outros efeitos simultâneos, como por exemplo, a poesia lírica e a instituição matrimonial
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Quanto mais se separa o sexo da simples procriação, menos animal e mais humano ele se torna.
“Ética para um jovem”
Fernando Savater, Editorial Presença
Página 96